domingo, junho 29, 2008

cast down of heaven



É ali, onde o dia cai, tocando o horizonte, rasgando o céu de vermelho e violeta, que nasce a vida.
É ali, naquele pedaço de céu, naquele pedaço de terra, naquele pedaço de mar, que tudo pega fogo.
É ali que tocam os violinos.
Ambrósia espalha-se pelos lábios, já sedentos de cores.
Tocam-nos as almas imortais de sorrisos ancestrais.
Rasga-se o véu, inútil carne, deixando sair a luz natural que existe dentro de nós.
A luz que tentamos, vezes sem conta, apagar.
É ali que eu quero estar…

sexta-feira, junho 27, 2008

there´s no tenderness like before in your fingertips


Perdi o tacto. Perdi a arte de tocar o que é belo. Perdi o dom nato de sentir sem olhar, sem ver. Não identifico formas na escuridão desta casa. As minhas mãos não passam pelos objectos como outrora. Os meus dedos não sentem as rugosidades dos móveis, das paredes, de outras mãos...
Perdi o tacto, porque nada mais tem importância, se não te conseguir tocar a ti... Se não te conseguir sentir... Se não te conseguir cheirar...
As formas do teu corpo já não deslizam pelas minhas mãos, agora ásperas.
Os teus lábios não tocam os meus dedos, as minhas mãos, os meus lábios...
As paredes perderam a forma e os objectos... são apenas objectos. Coisas. Coisas com o valor que nós lhes damos...
Talvez não tenha perdido o tacto.
Perdi-te a ti...
Assim, perdi tudo o que me é nato, também...

quinta-feira, junho 26, 2008

your slipping slowly from my reach


Recordo-me agora, enquanto baloiço nesta cadeira de verga, apanho a brisa crepuscular e vejo-te, longe, bem longe, de mãos dadas, pelos telhados mais altos e mais escorregadios.
Saltamos, rimos, choramos... Sinto a tua presença como se nunca tivesses partido, como se nos conseguíssemos dividir em pedaços ciosos de vida alheia, da nossa vida alheada pelo espaço e pelo tempo, de quem fomos, de quem somos, de quem gostaríamos de ser...
E tudo converge no ser que não somos, nas escolhas que perdemos, nos abraços que não demos, nos beijos a que não cedemos...
E quando olho para o longe, quando recordo outras vidas, outras escolhas, vejo que, agora, tudo o que resta é água, água salgada e dispersa. Não há barco que a segure, não há onda que a liberte.
Água, apenas...

quarta-feira, junho 18, 2008

give me forbidden places


Peço os teus olhos encostados aos meus. Encostados em mim. A mim...
Peço as tuas mãos na minha direcção. Em mim.
O teu toque suave, deslizando pelo meu corpo, pela minha alma, na forma oblíqua do ser. Do meu ser...
Peço o teu respirar junto a mim. Em mim. Eternizando um momento de vida eficaz e completa.
Peço o teu beijo, húmido e quente, repleto de desejo e aspiração a mim, de mim...

E é esta a partilha proíbida que se quer revelar quando duas pessoas não se podem tocar...

quinta-feira, junho 05, 2008

we learn as we grow older


Não consigo explicar a dor que a luz me faz sentir, por estar habituado à escuridão.
Não consigo sentir o prazer de um raio solar, pleno de energia, porque magoa.
As borboletas batem ferozmente as suas pequenas asas dentro do meu estômago, agora pequeno.
Os meus olhos passam por tudo sem nada ver.
Apenas imagino os meus lábios nos teus, na humidade do momento, na concretização de algo que nunca irá acontecer.
Por isso, apaga a luz e vem para bem perto de mim, para que possamos apreciar o momento, para que possamos usufruir do calor imenso que se faz sentir neste pequeno espaço e para que, assim, possamos ser sombra, escondida da luz...

terça-feira, junho 03, 2008

i need love, not games...


Pensei que, talvez, te pudesse tirar da cabeça. Talvez houvesse uma pequena possibilidade de me ensinar que não és real, que não podes ser real, que não podes realizar-te...
Num momento, quis tocar-te, beijar-te, sentir-te... quis-te...
Pensei em realidades paralelas, realidades onde tivesse menos 10 anos e menos 20 quilos... irrealidades...
Pensei que fossem estes momentos que nos fazem sentir vivos. Mas por que razão sinto um pouco mais de morte em mim?
Talvez precise mesmo de jogos e não saiba... não de amor...

segunda-feira, junho 02, 2008

why would you lie?


Se te sinto a cada passo, o teu cheiro, o teu olhar, a tua presença, o teu gesto, o teu respirar... por que razão o negaria?
Se te sinto a cada toque, a cada beijo, a cada gota de suor... por que razão o negaria?
Se te sinto em saudade, em falta, em omissão... Por que razão o negaria?
Se me sentes quando não estou, me ouves, me cheiras, me tocas...
Se não consegues afastar os teus olhos de mim...
Se o sabor é doce, quando me vês...
Se lamentas a falta e a saudade...
Por que razão mentirias?