segunda-feira, janeiro 21, 2008

You'll wake up and find out you're alone


Naquele tempo, tocavas-me no ombro, suavemente, enquanto lias as palavras que eu tentava formar no papel.
Agora, o papel, já amarelo, ocupa prateleiras que ganham pó, no fundo dos fundos desta casa escura.
As mãos que, outrora, pegavam levemente no lápis de carvão, lisas e compridas, estão enrugadas e inertes, como se estivessem a encolher. Tal como todo o meu corpo.
A minha alma, que era simples e livre, está aprisionada neste pedaço de pele e enruga-se com ele.
Já não vejo o teu sorriso. A sinceridade do teu toque leve já não desperta perguntas complicadas para responder. Os teus olhos já não me respondem no silêncio.
No fundo do quarto mal iluminado, com cheiro de velas queimadas e vidraças comidas pelo tempo, a tua voz feminina ainda se ouve como uma brisa... Acreditas mesmo nisso? Não é possível casar com quem amamos?... E eu ainda te respondo que não, que não é possível, pois amamos muitas pessoas numa só vida e esta é pequena o suficiente para não englobar tanta gente... E tu sorris...
Agora, sentado nesta cadeira velha e gasta, como eu, penso que talvez estivesse enganado.
E não me movo mais, para que mais nenhum gesto seja descuidado...