sexta-feira, agosto 15, 2008

Já ansiámos corpos ausentes, como um rio anseia pela foz…


Por que razão dói? Por que dói tanto?! Não sei, não consigo responder.
Magoava-me esta visão como a ele mesmo. Há mais de 20 anos que partilhamos amizade e nunca o tinha visto assim, tão frágil, tão menino… Magoa-me tanto. Não somos nada altruístas…
Sufocava com ele, desciam-me lágrimas entre soluços, faltava-me o ar, sempre que ele sufocava, sempre que lhe desciam as lágrimas, sempre que soluçava, sempre que lhe faltava o ar…
É suposto que a amizade seja uma coisa boa, não?! Então, por que raio dói tanto?
Partilhámos risos, copos, casas, camas, entre risos e choros, sozinhos ou com mais quinhentos, e nunca nos abandonámos, por difíceis que fossem os tempos…
Não é inédita a dor sentimental no nosso percurso. Passámos amores e desamores e ultrapassámos barreiras melhores e piores. Demos luta. Deram-nos luta. Conselhos e silêncios fizeram parte da nossa vida comum. Agora, sentados neste longo areal abandonado, lançados à intensa chuva que se faz cair e ao vendaval exterior tão violento como o interior, perguntas-me “Por que razão dói?” e eu não te consigo responder…
Apenas reforço a certeza de que as opções são sempre perdas. E perdemos sempre mais do que ganhamos. E as nossas vitórias, na verdade, mais não são do que pequenas ilusões de que tudo está bem… E pergunto também “Por que dói tanto?”… Por que dói a descoberta, a revelação, a felicidade de estar com alguém que deveríamos de ter conhecido há meia dúzia de anos, antes de termos feito opções que nos transformariam a vida para sempre e, agora, nos falta a coragem para a mudança… E sabemos, ambos, que depois das lágrimas, da dor, dos gritos, da falta de respostas, sairemos daqui, encharcados de chuva e areia, e tudo acabará por se silenciar por fora, mas a mágoa, essa, viverá no quarto escuro que guardamos no fundo do nosso ser, esperando que nenhum raio lhe leve luz…
…já fizemos tanto e tão pouco…
Que há-de ser de nós?

quinta-feira, agosto 14, 2008

A bad day is when I lay in bed and think of things that I might have been


Foi com um “lamento, mas não posso” que te vi partir para o aeroporto. Não estavas ansioso nem perturbado. Acompanhei-te em silêncio e assim permaneci. Sim, queria ir. Sim, queria partilhar cada passo contigo. Sim, queria tornar esta viagem ansiosa e perturbante… inesquecível, não pelo que te esperava lá, mas pelo que levavas de cá… pelo que acabou por ficar e esperar cá…
Tivemos pouco tempo juntos, mas o suficiente para marcar o espaço interno que me sufoca. E já sufocava antes de estarmos juntos…
A ansiedade que não foi aqui se quedou e ocupou cada espaço livre que encontrou. Suponho que estava mais vazia do que imaginava…
Lembro palavras tuas sobre pessoas que não gostavam necessariamente de ti, mas da maneira como tu as fazias sentir. Compreendo… Melhor agora do que antes… E vivo com essa dúvida. No entanto, há mais dúvidas em relação a isso… Se eu gosto da maneira como me fazes sentir, talvez seja porque gosto de estar contigo… Talvez goste mesmo de ti… Outros houve que me fizeram sentir bem. Aliás, fui muito mal habituada por familiares, amigos, namorados e amantes… Se o que sinto quando me lembro de ti é um misto de alegria e sofrimento, um arrepio na espinha e uma falta de ar, talvez sejas mesmo tu… E isso é ainda mais difícil do que gostar apenas da maneira como me fazes sentir, pois o que sinto ganha forma, rosto, toque, cheiro… e és tu!
E o meu desejo é mesmo para que te divirtas e aproveites bem a viagem, e que faças mais e mais e mais, sempre que tenhas oportunidade… e continuarei a lamentar não poder ir contigo, mas é tão mais importante que vás, que conheças, que gostes, que recordes, que queiras voltar e, também, que queiras regressar a casa… estarei por perto, nem que seja apenas para te ver e, assim, quebrar esta asfixia lacrimejante de felicidade que me assalta quando te vejo…