sexta-feira, setembro 12, 2008

talvez um dia seja eu a largar-te a mão…



Tenho dançado… cada nota que as tuas palavras transmitem, cada som do teu sorriso, cada timbre do teu silêncio… Sempre fui boa dançarina, digo-te entre risos, mas risos irónicos de quem tem dançado imenso e a quem os passos já não são tão leves como outrora…
Tens dançado, dizes-me tu, como eu não imagino, como nem me apercebo, da música que tendo a tocar, sem saber…
Os nossos passos estão trocados. Não encaixamos notas, lamentamo-nos da lonjura, evitamos a proximidade… E é normal e natural que as notas fluam de ambos os lados… É normal e natural que dancemos e que passemos música… É normal e natural que estejamos cansados das nossas passadas, leves outrora…
E tu sabes que eu não vou a lado algum. A tua rede de segurança ampara os golpes que não me chegam ou que desaparecem com um lamento…
E tu sabes que sinto a tua falta, que preciso de ti, da tua presença, mais do que do teu beijo, do teu toque, do teu respirar…
E tu sabes que me dás água…
Mas eu não sei se vais a algum lado ou quanto tempo permanecerás…
Mas eu não sei se sentes a minha falta ou durante quanto tempo a vais sentir…
Mas eu não sei se te dou água ou quando a água deixará de te matar a sede…
Um dia, ensinaram-me a evitar situações que me pudessem magoar, a evitar sonhos e ilusões, a evitar água que me pudesse causar qualquer tipo de dependência… E eu aprendi. E eu apliquei. Anos e anos de opções fáceis e intuitivas, afectas a realidades, despegadas de sensações, nobres ou nem por isso, independentes de sentimentalismos complexos e fúteis…
Um dia, esqueci-me do que me ensinaram, esqueci-me do que aprendi, esqueci-me do que apliquei…
Suponho que vá chegar o dia em que recordarei a aprendizagem, apesar de te querer roubar antes que isso aconteça, apesar de te querer respirar antes de me lembrar… E temo o momento em que isso aconteça, mais do que não te dar água, agora, neste momento…