segunda-feira, julho 28, 2008

I welcome your life for me


Cinquenta anos passaram e, daqui, do alto onde me sento, olho para ti, mas não te vejo mais. Vejo antes uma sombra que me acompanha os dias e as horas e as semanas e os meses e os anos… os cinquenta anos em que partilhámos espaços e objectos, opiniões e ideais, lágrimas e sorrisos… e também os cinquenta anos em que não o conseguimos fazer.
Dizem que o tempo é insignificante, mas eu encontro o contrário. Encontro razões em demasia para dizer que, na verdade, isto não é amor. Também não é cumplicidade. Estamos aqui por respeito. Somos velhos e vivemos juntos. Sentados no jardim, ao fim do dia, com a manta pelas pernas, os cães a brincar ao fundo, os gatos a espreguiçarem-se ao sol, cada um com o seu livro na mão… É só isto que importa, não?
Lembramos, chorosos, as noites em que não dormimos, os dias intermináveis de aventuras e surpresas. Sair do Porto e ir tomar o pequeno-almoço a Lisboa. Estar em Sagres e ir jantar a Bragança. Mochila às costas e apanhar boleia para Espanha. Ou para França. Ou para outro sítio qualquer. Chegar a casa e ter a nossa cama ocupada por um amigo qualquer, que não se consegue distinguir na escuridão, e deitarmo-nos também, esgotados de qualquer energia, indiferentes à companhia que temos.
Somos nostálgicos e sabemos disso. Não lamentamos termos passado pelas situações, por mais macabras ou hilariantes que fossem. Não lamentamos não as passarmos agora.
O tempo é relativamente significante. Bastante, até… Tendo em conta que és apenas sombra, pois não pertencias a este passado nostálgico, apenas àquele passado do qual não tenho recordações melancólicas…