terça-feira, setembro 23, 2008

where rival ship meets no incentive


Tirei as chaves da minha mala e coloquei-as em cima da mesa. Olhei para ti e acenei um adeus apático, sem qualquer sentimento ou sensação. Estavas estranho. Olhavas-me interrogativo. Talvez preferisses uma daquelas situações constrangedoras de lágrimas ou de gritos, loiça partida, livros no ar, no chão...
Esse teu ar revelou o quanto me desconhecias. E foi aí que sorri com um impulsivo ar de reprovação e virei as costas. Não te senti. Supus que tivesses ficado parado, boquiaberto. Não compreendi. Talvez não me tenhas dado atenção suficiente. Talvez não estivesses atento. Talvez me interessasse que não reparasses. Apenas queria os meus livros e os meus cds. Mais nada.
Como te falhou a pessoa que eu sou? Como não me viste?
Não interessa. Na realidade, nunca interessou. Foste uma miragem, um foco de luz que pensei que brilhasse mais do que o que brilhava, de facto. Porque não interessa a luz que as coisas têm, mas a que depositamos nelas...
Quis-te tanto. Tive tanto para te dar. Longe de tudo o resto, criei da minha vida um labirinto cujos cruzamentos passavam por ti. Tu conseguiste criar um labirinto que fugisse deles. Talvez não estivesses atento. Talvez não quisesses estar.
Na verdade, nada mais era meu nessa casa, nesse quarto. Apenas tu, numa ou noutra ocasião, naquele sofá atrevido... noutros tempos. E tu não virias comigo. Ficarias no teu espaço, na tua casa, com as tuas chaves. E eu iria para outro qualquer sítio, sem mágoa, sem desilusão, apenas com um sorriso rendido ao teu ingénuo desconhecimento de mim...